Ikigai e o tempo de ecrã: Redescobrir sentido para reduzir o uso excessivo das TIC

Vivemos num mundo onde as tecnologias digitais estão por todo o lado. Do momento em que acordamos ao último segundo antes de dormir, é comum estarmos diante de um ecrã — seja para trabalhar, estudar, comunicar ou simplesmente passar o tempo. Mas o que acontece quando o uso das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) deixa de ser funcional e passa a dominar o nosso quotidiano?

É aqui que entra o ikigai, um conceito japonês que significa algo como “razão de ser” ou “aquilo que faz a vida valer a pena”. Este conceito propõe a procura de um equilíbrio entre diferentes dimensões da existência. Encontrar o nosso ikigai refere-se à alinhar os nossos interesses, competências, valores e contributo para nós próprios e para os outros, de forma a viver com mais propósito e satisfação. Este sentido profundo pode ser uma ferramenta poderosa para equilibrar o uso da tecnologia no nosso dia a dia. Quando não temos clareza sobre o nosso ikigai — sobre o que nos move, motiva e dá direção — é comum procurarmos distrações e gratificações imediatas nas redes sociais, videojogos ou em horas a fio a navegar sem rumo. O vazio, o tédio, ou outros sentimentos incómodos, podem ser facilmente minimizados, ainda que temporariamente, pelo consumo digital. No entanto, este preenchimento é ilusório e, muitas vezes, contribui para sentimentos de frustração, ansiedade ou apatia.

Por outro lado, quando estamos conectados com aquilo que nos dá sentido, o tempo torna-se mais precioso. Passamos a escolher com mais consciência onde investimos a nossa atenção. O uso excessivo das TIC deixa de ser um refúgio e passa a ser uma escolha pontual, subordinada aos nossos valores, objetivos e desejos mais auténticos.

Reduzir o tempo de ecrã não precisa de ser um sacrifício — pode ser um movimento de reencontro consigo próprio. É a oportunidade de descobrir atividades que despertam prazer, criatividade e ligação com os outros no mundo real. É também uma forma de abrir espaço mental e emocional para refletir sobre o que realmente importa, e assim aproximar-se do seu ikigai.

Se sente que está a perder tempo demais online e gostaria de recuperar o controlo, uma boa estratégia pode ser começar por pequenas mudanças, como estabelecer horários livres de ecrã, fazer pausas conscientes ao longo do dia ou substituir parte do tempo digital por atividades significativas — como caminhar, ler, desenhar ou estar com amigos.

Mais do que um conceito filosófico, o ikigai pode ser um guia prático para nos ajudar a viver com mais presença, equilíbrio e intenção — inclusive na forma como usamos a tecnologia. Afinal, quando sabemos para onde queremos ir, é mais fácil dizer “não” aos atalhos que nos desviam do caminho.